sexta-feira, 26 de abril de 2013

Aprender a esperar


Em tempos de ansiedades avassaladoras, onde fantasmas assustam, supostas ameaçam enxergo, a insegurança grita, eu preciso aprender a esperar.
Vivendo na era da velocidade, onde tudo pede pressa, urgências saltitam a minha frente e embaralham minha vista, a aceleração contínua pressiona e sinto-me atropelada, eu preciso aprender a esperar.
Na época onde o instantâneo é exigência básica, o imediatismo comanda desejos e dita ritmos, quando poucas horas se tornam eternidade angustiante, eu preciso aprender a esperar.
Numa sociedade onde o acúmulo é regra, onde conquistas são vitrines, onde ter ou parecer vale mais do que ser, eu preciso aprender a esperar.
Quando o contexto é de uma suposta perfeição, onde o belo é padronizado, a ditadura da moda se instala com força, e o que não está pronto é desprezado, eu preciso aprender a esperar.
Eu preciso aprender não o desespero da fome, mas a oportunidade de ser saciada e encontrar calmaria.
Diante de dias maus que me arrancam lágrimas, que esfolam uma esperança enfraquecida pela dor prolongada, que furtam o sono que já foi tranquilo, eu preciso aprender a esperar.
Esperar a noite da alma passar, o dia amanhecer, os raios de luz mostrarem novas perspectivas e renovarem os passos outrora cansados.
Eu quero aprender a esperar, com toda esperança, a alegria que pode vir, que voltará após o amanhecer.
Esperar que as lágrimas sejam secadas e que um caminho para novos risos se abram, e a celebração seja maior que antigos lamentos.
Esperar por uma volta definitiva, daquele que assegurou-me um novo mundo, falou sobre a cura das nações, de um brilho eterno, onde não mais haverá espaço para noite, para assaltos, violências, injustiças, apenas um dia sem fim, sol da eternidade.
Eu preciso aprender a esperar. Esperar a libertação das ilusões, esperar a novidade de vida. Enquanto espero, aprender. Aprender a conhecer e me solidarizar com as noites de tantos. Aprender com minhas fragilidades e oferecer suporte ao necessitado, não porque eu seja melhor, mas porque espero o melhor. Nessa esperança me reparto, e sou misteriosamente acrescida. O que me estimula a aprender melhor, a viver atenta, a observar as estrelas, os sinais dos tempos, a me aproximar em esperança viva.
Ensina-me, Senhor. [Taís Machado].

 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

MISSÃO HOLISTICA NO ASPECTO PRÁTICO DA IGREJA LOCAL


Holísmo (do grego holos, inteiro, completo) missionário indica que as propriedades de um programa operacional da igreja não pode ser explicado apenas pelas soma dos seus componentes. O sistema como um todo determina como se comportam as partes. Holismo missionário é para designar um modo téo-referente[1] de pensar, ou ensinar a realidade da missão da igreja, segundo a qual não se pode explicar a natureza da mesma pela mera ordenação, ênfase ou disposição das partes, mas antes pela relação (sincronização) que elas mantém entre si e com o próprio todo.
               Missão holística é a cosmovisão cristã de contemplar o homem como “dicotomia substancial”,[2] como entidade ‘única’, integral e inteiramente associadas. O ser humano não é apenas matéria física, consciência, razão e emoção. Outrossim, também não é apenas espírito. Logo, levar em consideração alguns desses aspectos isoladamente, é perder de vista sua “inteireza”, sua integralidade. “Nosso próximo não é uma alma sem corpo, em que só a alma deve ser amada, nem um corpo sem alma, em que só o corpo deve ser cuidado, nem uma junção de corpo e alma separados da sociedade”.[3]
                        O grande mandamento de Jesus (Marcos 12:30-31) expressa bem a missão holística da igreja. Por exemplo: o homem que caiu entre os salteadores precisava, acima de tudo, naquele momento, de remédio e curativos para suas feridas, não de ouvir um bom sermão expositivo ou folhetos evangelísticos nos bolsos.
                       A nossa compreensão da missão holística da igreja deve ser deduzida da nossa compreensão da missão de Jesus. Nosso Senhor Jesus Cristo é a expressão legítima do amor serviço. “Suas palavras e ações estavam correlacionadas, as palavras interpretando as ações e as ações incorporando as palavras. Ele não somente anunciou as boas novas do reino; ele também manifestou visíveis “sinais do reino”. Se o povo não acreditasse em suas palavras, então que acreditassem nele “ao menos por causa das mesmas obras” (Jo 14:11).[4]
                  No aspecto holístico da igreja, os cristãos são chamados para “articular o evangelho” por meio do que eles dizem (pregação, kerigma, proclamação, anunciação), do que eles são (testemunho, vida) e do que eles fazem (serviço, caritas, diakonia, koinonia).


[1] Pensar de maneira teo-referente é considerar Deus como ponto último de referência para tudo. [OLIVEIRA, Fabiano de Almeida. Reflexões Críticas Sobre Weltanschauung]
[2] A teologia utiliza o termo dicotomia substancial para referir-se aos aspectos duais da composição humana. A composição humana não é um dualismo; é uma dualidade. É unidade-em-dualidade. Cada um de nós é uma pessoa com dois (não três) aspectos essenciais, corpo e alma.
[3] STOTT, John. A missão cristã no mundo moderno. p. 35
[4] Idem, Ibid. p.33.