quinta-feira, 29 de maio de 2014

GENEBRA E O NORDESTE BRASILEIRO: CONTRA SENSO IRECONCILIÁVEIS

Um dos capítulos do trabalho do Rev. Misael ao Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper – SP – Intitulado:
 DIAKONIA NA MISSÃO IGREJA
Pietas et  etiam caritas
O culto devido a Deus (pietas) e o amor devido ao próximo (caritas)
Com o passar do tempo, sem percebermos, valores neotestamentários e históricos foram desprezados até desaparecê-los. Nos últimos anos a igreja se distanciou consideravelmente dos valores e deveres cristãos em duas linhas paralelas quase irreconciliáveis. Os ‘cristãos’ modernos opinaram por uma ‘linha’ que se afasta com velocidade da ‘fronteira’, da ‘linha de demarcação de Deus.

       GENEBRA E O ESFORÇO MISSIONÁRIO DE JOÃO CALVINO
Pensar em Calvino como responsável por uma elaboração de uma doutrina somente, é sem dúvidas algo muito pequeno e claramente faltoso de conhecimento da vida e obra de Calvino. À medida que conhecemos a doutrina calvinista, fica claro a importância atribuída e comprometimento de Calvino com o cuidado pastoral, a evangelização e visão missionária num tempo onde a opressão ao evangelho era grande operando no radicalismo.[1]

                        Falar de João Calvino é falar de um home segundo o coração de Deus, é fato de desejarmos ver o Senhor Jesus Cristo por trás da vida celebrada. Apreciar esse reformador do século XVI é desejar ver novamente a obra de Cristo na redenção do homem, na vida cristã, no mundo criado e no mundo porvir. O escopo da teologia de Calvino é a união de Cristo com o homem redimido, perdoado e salvo. “Também vemos muito de sua preocupação em glorificar a Deus e edificar a igreja, alcançando os homens perdidos por meio de uma ousada ação missionária e evangelística; consolando o povo de Deus em suas perseguições, por meio de inúmeras cartas que enviava aos crentes da França e de muitos outros lugares; instruindo o povo de Deus por meio de sua incansável ação pastoral, seu vasto trabalho de exposição das Escrituras e sua vigorosa produção de comentários bíblicos”.[2]
                        A ação missionária e evangelística de Calvino em Genebra é de deixar a igreja hodierna envergonhada. O calvinismo é o maior exemplo de empreendimento missionário na história pós-reforma. Quem foram George Whitefield, Charles H. Spurgeon, William Carey, Devid Brainerd, Jonatham Edwards, Ashbel Green Simionton etc senão calvinistas convictos?  A paixão e vocação missionária de Calvino se revelou de várias maneiras:
Muitos conhecem a acusação de que os calvinistas se preocupam somente com doutrina e são indiferentes à evangelização e missão... Calvino evangelizava persistentemente as criança de Genebra, por meio de aulas de catecismo e da Academia de Genebra. Ele treinava pregadores a rogarem aos homens e mulheres que seguissem a Cristo. A visitação na enfermidade prescrevia uma conversa evangelística. Além de uma análise superficial dos sermões de Calvino mostra de imediato um zelo permanente para que homens e mulheres forres convertidos a Cristo.[3]

                        Não se pode separar Calvino da obra missionária, nem ignorar seu modelo evangelístico para a igreja em toda a sua trajetória no prepara e envio de missionários. “88 missionários foram enviados a Genebra. De fato, ouve mais do que cem, e muitos deles foram treinados diretamente por Calvino. Genebra se tornou o irmã de crentes perseguidos, e muitos desses imigrantes foram discipulados e retornaram ao seu país como missionários e evangelistas eficazes”.[4]
                        Quando os tempos de turbulência se acalmaram no ministério do reformador, imediatamente surgiu a oportunidade para expansão missionária intencional e implantação de igrejas. A história mostra que a bênção de Deus repousava sobre a vida e os esforços missionários de Calvino e das igrejas de Genebra., de 155 a 1562, foi extraordinário – “mais de 200 igrejas secretas foram implantadas na França por volta de 1560. Até 1562, o número crescera para 2.150, produzindo mais de 3.000,00 de membros. Algumas dessas igrejas tinham congregações que totalizavam milhares de membros”.[5]
                        Existe o relato histórico de uma correspondência do pastor de Montpelier relatando o grande apogeu missionário decorrente das bênçãos do Senhor: “...nossa igreja, graças a Deus, tem crescido, e continua crescendo tanto a cada dia, que pregamos três sermões aos domingos para mais de cinco ou seis mil pessoas”.[6] Outra Carta do pastor de Toulouse, declarava: “Nossa igreja continua crescendo até ao admirável número de oito ou nove mil almas”.[7] A França, pátria do reformador foi por meio de seu ministério ‘evadida’ por mais de 1.300 missionários treinados em Genebra. Desse esforço missionário nascera a Igreja Huguenote Francesa que quase triunfou sobre a contra reforma católica na França.
Calvino não evangelizou e implantou igrejas somente na França. Os missionários treinados por ele estabeleceram igrejas na Itália, Holanda, Hungria, Polônia, Alemanha, Inglaterra, Escócia e nos estados independentes da Renância. Ainda mais admirável foi uma iniciativa que enviou missionários ao Brasil.[8]
                       
                        O compromisso missionário de Calvino com a evangelização e missão não era teórico, mas, como em todas as outras áreas de sua vida e ministério, era uma questão de atividade zelosa e compromisso fervoroso. 

       11.2. O DESCASO MISSIONÁRIO NO NORDESTE BRASILEIRO

O Projeto Macedônia exerce dentro do contexto calvinista e amor ao próximo uma contribuição necessária para o nordeste brasileiro, assolado por pobreza, idolatria, injustiças, e um completo abandono por parte das autoridades políticas na sua maioria corrupta. Os números apontam para um campo promissor e necessitado da atenção da igreja brasileira, tão preocupada com o restante do mundo, enquanto os filhos da nossa nação morrem de fome e principalmente sem ouvirem a palavra de Deus.[9]
                                                Vimos o esforço missionário e concentrado de João Calvino. Esforço esse que tem reflexo no mundo ainda hoje. Sentimos falta de uma “Genebra’ onde respira missões. Para o reformador genebrino não existia lugar ou pessoa onde a graça de Cristo não pudesse alcançar e restaurar e conduzir a boa ordem. “De fato, a glória de Deus resplandece em todas as criaturas, tanto nas superiores como nas inferiores. Contudo, em nenhum outro lugar essa glória resplandeceu mais intensamente do que na cruz, na qual houve uma admirável mudança de coisas – a condenação de todos os homens foi manifestada, o pecado foi apagado, a salvação, restaurada ao homem; em resumo, todo o mundo foi renovado, e todas as coisas, restaurada à boa ordem”.[10]
                        Nordeste & Missão.[11] O Brasil, mas principalmente o Nordeste é um lugar deixado à própria sorte pela igreja. O Sertão nordestino é a mais próxima e negligenciada fronteira da igreja brasileira. Longe dos olhos, às margens das iniciativas e estigmatizadas como “campo resistente”, centenas de comunidades rurais, onde vivem mais de 11 milhões de pessoas, clamam ano após ano por uma oportunidade relevante de ouvir o Evangelho.
                        Historicamente estas cidades do sertão nordestino têm sido classificadas como “resistentes” ao avanço da igreja evangélica devido à idolatria. Dados do IBGE, contudo, revelam um forte crescimento dos “sem religião” na última década, fazendo com que este grupo já seja o segundo mais numeroso em várias destas pequenas cidades. Juripiranga (9.600 hab.), no agreste Paraibano, com 22% de “sem religião”, é um exemplo.
                        A Paraíba, com 84 municípios com menos de 3% de presença evangélica, é o Estado mais carente do Evangelho no Brasil!
Mas a Paraíba também é estratégica para o avanço do Reino de Deus na região, pois é o centro geográfico do Nordeste. Partindo de João Pessoa, num raio de 700 km, temos 5 outras capitais, vários pólos regionais, como Campina Grande, Mossoró e Caruaru e centenas de pequenas cidades do sertão.
            O Nordeste (principalmente o sertão) é o maior desafio missionário da igreja brasileira. Ao mesmo tempo, por causa da alegria, fibra e criatividade de sua gente, é o maior potencial ainda não mobilizado, da própria igreja, para missões. Veja alguns números.
            É a 2ª região mais populosa do Brasil (52 milhões hab.) e a que possui a menor porcentagem de evangélicos (13%);
                        É onde está a maioria (71%) das cidades menos evangelizadas do Brasil. Das 485 com menos de 3% de presença evangélica, 343 estão no interior nordestino; nessas regiões o protestantismo histórico é praticamente inexististe. Em alguns estados nordestinos o presbiterianismo histórico (IPB) aparece no último relatório do IBGE com uma presença inexpressível. A porcentagem é a menor entre todas as denominações evangélicas existentes.
                        Das 258 tribos indígenas brasileiras, 39 estão no Nordeste e, destas, 29 ainda não têm uma igreja capaz de evangelizar seu próprio povo sem ajuda externa; Das 724 comunidades quilombolas (descendentes de africanos), 523 estão no Nordeste e onde, em sua grande maioria, ainda não existe uma única igreja.
                        Pesquisa etnográfica realizada em 15 de julho de 2013 apresentam ainda os seguintes dados: Cidades do Cariri da Paraíba. São João do Tigre – 5.000 hab. Sumé – 16.000 hab. Prata – 5.000,00 HAB.  São Sebastião do Umbuzeiro – 4.500,00 hab. Congo – 5.500 hab. Ouro Velho – 3.100 hab. Zabelê – 2.500 hab. Serra Branca – 13.000 hab. Amparo – 3.000 hab. Camalaú – 7.000 hab. São João do Cariri – 5.000 hab. Coxixola – 2.200 hab. Total de habitantes apenas nestas cidades: 71.800 habitantes. Estas cidades tem número reduzidíssimo de evangélicos, não tem Igreja Presbiteriana, os poucos ‘evangélicos’ não defendem o evangelho da graça de Deus, estas cidades estão no Cariri paraibano. No entanto, existem muitas outras cidades nos estados do Pernambuco, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte em situações semelhante sem despertar qualquer interesse missionário da igreja hodierna.
                        Muitos outros fatores negativos de ordem – política – social e religiosa estão intrinsecamente ligados ao nordeste brasileiro [Pode-se dizer com segurança que a “África, a Macedônia” (At 16:9) que grita por socorro é logo ali]. Eis o grande paradoxo entre a visão missionária da Igreja em Genebra e a Igreja brasileira.




[1] LIMA, Danilo Eller / Danilo Eller Lima. Diácono da Igreja Presbiteriana do Brasil do Jardim Esperança  – Cabo Frio, RJ. Em cumprimentos a exercícios de recomendações pastorais alusivos a teologia e a diakonia de João Calvino.
[2] Revista Fé para hoje. João Calvino 500 anos. p.1,2. Nº 35 – Nov/2009. Ed. Fiel.
[3] Idem, Ibid, p. 32
[4] Idem, Ibid, p. 33
[5] Idem, Ibid, Op, Cit
[6] Idem
[7] Idem
[8] Idem
[9] LIMA, Danilo Eller / Danilo Eller Lima. Diácono da Igreja Presbiteriana do Brasil do Jardim Esperança  – Cabo Frio, RJ. Em cumprimentos a exercícios de recomendações pastorais alusivos a teologia e a diakonia de João Calvino.
[10] Idem, Ibid, p.33
[11] Pesquisa etnográfica – observador participante. www.projetomacedoniamisael.blogspot.com

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