Nenhum ser vivente está disposto a PERDER a sua
prole; o homem sofre uma dor muito aguda quando perde um filho. Acaso Deus não
o sofre ainda mais? Há uma história muito popular relativa ao carinho de uns
certos pais para com seus filhos. [ilustração].
A história relata que houve fome na terra, no
Leste, e que um pai e uma mãe se viram sem absolutamente nada para comer, e a
única possibilidade de preservar a vida da família seria vender um dos filhos
para que fosse escravo.
Então os pais consideraram o assunto. O tormento de fome se
tornou intolerável, e as súplicas de seus filhos pedindo pão puxavam
dolorosamente as cordas de seus corações de tal maneira, que tiveram que
retomar seriamente a idéia de vender a um deles, para salvar a vida de todos os
demais. Tinham quatro filhos. Qual deles deveria ser vendido? Certamente
não devia ser o maior: como poderiam desfazer-se de seu primogênito? O segundo,
era tão parecido com seu pai que parecia uma miniatura dele, e a mãe disse que
ela nunca se separaria dele. O terceiro era tão singularmente como sua mãe que
o pai disse que preferiria morrer antes que este querido filho se convertesse
em um escravo; e com relação ao quarto filho, ele era o Benjamim, seu caçula,
seu amado filho, e não podiam separar-se dele. Finalmente concluíram que seria
melhor morrerem todos juntos para não terem que separar-se voluntariamente de
algum de seus filhos.
Vocês
não simpatizam com esses pais? Vejo que simpatizam sim. Contudo, Deus nos amou
de tal maneira que, para dizê-lo com muita ênfase, pareceria que nos amou mais que
a Seu único Filho e não livrou a Ele, para perdoar-nos. Deus permitiu que entre
todos os homens, Seu filho perecesse “para que todo aquele que nEle crê, não
pereça, mas tenha vida eterna.”
Se
desejarem ver o amor de Deus neste grande procedimento, devem considerar como
Ele deu a Seu Filho. Ele não entregou a Seu Filho, como tu poderias fazer,
a alguma profissão que teria como consequência desfrutar de sua companhia;
senão que mandou o Seu Filho ao exílio entre os homens. O enviou à terra
naquele presépio, unido em uma perfeita humanidade, que no princípio estava
contida na forma de uma criança. Ali dormia, onde se alimentava um boi com
longos chifres! O Senhor Deus enviou o herdeiro de todas as coisas para que
trabalhasse na oficina de um carpinteiro: martelando pregos, usando o serrote,
empunhando o pincel. O enviou no meio de escribas e fariseus, cujos olhos
astutos O vigiavam e cujas línguas ferinas O açoitavam com calúnias vis. O
enviou para a terra a fim de que passasse fome e sede, em meio a uma pobreza
tão terrível que não tinha um lugar onde apoiar Sua cabeça. O enviou à terra
para que O açoitassem e O coroassem de espinhos, e batessem nEle e O
esbofeteassem. No fim, O entregou à morte: a morte de um criminoso, a morte do
crucificado.
Contemplem
essa cruz e vejam a angústia de Quem morre nela, e observem de que maneira o
Pai O entregou e escondeu Seu rosto dEle, e pareceria que Ele não O reconhece!
“Lamá Sabactâni” nos revela de que forma tão completa Deus entregou a
Seu Filho para resgatar as almas dos pecadores. O entregou para que fosse feito
maldição por nós; O entregou para que morresse “o justo pelos injustos, para
levar-nos a Deus”.
Queridos
amigos, eu posso entender que vocês se separem de seus filhos para que se
dirigiram à Índia a serviço de Sua Majestade, ou vão como missionários para
Camarões ou Congo, a serviço de nosso Senhor Jesus. Posso entender muito bem
que os entreguem apesar da expectativa diante de vocês de peste, pois se
morrerem, teriam morrido com honra por uma gloriosa causa. No entanto, acaso
poderiam pensar em uma separação que os conduzirá à morte de um criminoso,
sobre um patíbulo, execrados pelas mesmas pessoas a quem buscavam abençoar,
despojados das roupas de seu corpo e abandonados completamente em sua mente?
Não seria tudo isso demasiado? Acaso não exclamariam “Não posso separar-me
de meu filho por causa de uns canalhas como estes? Por que haveria de morrer
uma morte cruel, por seres tão abomináveis, que têm o descaramento de lavar
suas mãos no sangue de seu melhor amigo”?
Recordem que nosso Senhor Jesus
Cristo morreu uma morte que seus concidadãos consideravam como uma morte
maldita. Para os romanos, era a morte de um escravo condenado, que continha
todos os elementos de dor, desonra e escárnio, mesclados ao limite máximo. “Mas
Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós
ainda pecadores.” Oh, que maravilhoso o alcance desse amor, que Jesus Cristo
necessitasse morrer!
[Extraído de: www.projetospurgeon.com.br/.../a-soberana-graca-de-deus-e-a-responsa...