Um dos
capítulos do trabalho do Rev. Misael ao Centro Presbiteriano de Pós-Graduação
Andrew Jumper – SP – Intitulado:
DIAKONIA
NA MISSÃO IGREJA
Pietas
et etiam caritas
O culto devido a Deus (pietas) e o amor
devido ao próximo (caritas)
Com o passar do tempo, sem
percebermos, valores neotestamentários e históricos foram desprezados até
desaparecê-los. Nos últimos anos a igreja se distanciou consideravelmente dos
valores e deveres cristãos em duas linhas paralelas quase irreconciliáveis. Os
‘cristãos’ modernos opinaram por uma ‘linha’ que se afasta com velocidade da
‘fronteira’, da ‘linha de demarcação de Deus.
GENEBRA E O ESFORÇO MISSIONÁRIO DE JOÃO CALVINO
Pensar em Calvino como
responsável por uma elaboração de uma doutrina somente, é sem dúvidas algo
muito pequeno e claramente faltoso de conhecimento da vida e obra de Calvino. À
medida que conhecemos a doutrina calvinista, fica claro a importância atribuída
e comprometimento de Calvino com o cuidado pastoral, a evangelização e visão missionária
num tempo onde a opressão ao evangelho era grande operando no radicalismo.[1]
Falar de
João Calvino é falar de um home segundo o coração de Deus, é fato de desejarmos
ver o Senhor Jesus Cristo por trás da vida celebrada. Apreciar esse reformador
do século XVI é desejar ver novamente a obra de Cristo na redenção do homem, na
vida cristã, no mundo criado e no mundo porvir. O escopo da teologia de Calvino
é a união de Cristo com o homem redimido, perdoado e salvo. “Também vemos muito
de sua preocupação em glorificar a Deus e edificar a igreja, alcançando os
homens perdidos por meio de uma ousada ação missionária e evangelística;
consolando o povo de Deus em suas perseguições, por meio de inúmeras cartas que
enviava aos crentes da França e de muitos outros lugares; instruindo o povo de
Deus por meio de sua incansável ação pastoral, seu vasto trabalho de exposição
das Escrituras e sua vigorosa produção de comentários bíblicos”.[2]
A
ação missionária e evangelística de Calvino em Genebra é de deixar a igreja
hodierna envergonhada. O calvinismo é o maior exemplo de empreendimento
missionário na história pós-reforma. Quem
foram George Whitefield, Charles H. Spurgeon, William Carey, Devid Brainerd,
Jonatham Edwards, Ashbel Green Simionton etc senão calvinistas convictos? A paixão e vocação missionária de
Calvino se revelou de várias maneiras:
Muitos
conhecem a acusação de que os calvinistas se preocupam somente com doutrina e
são indiferentes à evangelização e missão... Calvino evangelizava
persistentemente as criança de Genebra, por meio de aulas de catecismo e da
Academia de Genebra. Ele treinava pregadores a rogarem aos homens e mulheres
que seguissem a Cristo. A visitação na enfermidade prescrevia uma conversa
evangelística. Além de uma análise superficial dos sermões de Calvino mostra de
imediato um zelo permanente para que homens e mulheres forres convertidos a
Cristo.[3]
Não se
pode separar Calvino da obra missionária, nem ignorar seu modelo evangelístico
para a igreja em toda a sua trajetória no prepara e envio de missionários. “88
missionários foram enviados a Genebra. De fato, ouve mais do que cem, e muitos
deles foram treinados diretamente por Calvino. Genebra se tornou o irmã de
crentes perseguidos, e muitos desses imigrantes foram discipulados e retornaram
ao seu país como missionários e evangelistas eficazes”.[4]
Quando
os tempos de turbulência se acalmaram no ministério do reformador,
imediatamente surgiu a oportunidade para expansão missionária intencional e
implantação de igrejas. A história mostra que a bênção de Deus repousava sobre
a vida e os esforços missionários de Calvino e das igrejas de Genebra., de 155 a
1562, foi extraordinário – “mais de 200 igrejas secretas foram implantadas na
França por volta de 1560. Até 1562, o número crescera para 2.150, produzindo
mais de 3.000,00 de membros. Algumas dessas igrejas tinham congregações que
totalizavam milhares de membros”.[5]
Existe
o relato histórico de uma correspondência do pastor de Montpelier relatando o
grande apogeu missionário decorrente das bênçãos do Senhor: “...nossa igreja,
graças a Deus, tem crescido, e continua crescendo tanto a cada dia, que
pregamos três sermões aos domingos para mais de cinco ou seis mil pessoas”.[6]
Outra Carta do pastor de Toulouse, declarava: “Nossa igreja continua crescendo
até ao admirável número de oito ou nove mil almas”.[7]
A França, pátria do reformador foi por meio de seu ministério ‘evadida’ por
mais de 1.300 missionários treinados em Genebra. Desse esforço missionário
nascera a Igreja Huguenote Francesa que quase triunfou sobre a contra reforma
católica na França.
Calvino
não evangelizou e implantou igrejas somente na França. Os missionários
treinados por ele estabeleceram igrejas na Itália, Holanda, Hungria, Polônia,
Alemanha, Inglaterra, Escócia e nos estados independentes da Renância. Ainda
mais admirável foi uma iniciativa que enviou missionários ao Brasil.[8]
O
compromisso missionário de Calvino com a evangelização e missão não era
teórico, mas, como em todas as outras áreas de sua vida e ministério, era uma
questão de atividade zelosa e compromisso fervoroso.
11.2.
O DESCASO MISSIONÁRIO NO NORDESTE BRASILEIRO
O Projeto Macedônia
exerce dentro do contexto calvinista e amor ao próximo uma contribuição
necessária para o nordeste brasileiro, assolado por pobreza, idolatria,
injustiças, e um completo abandono por parte das autoridades políticas na sua
maioria corrupta. Os números apontam para um campo promissor e necessitado da
atenção da igreja brasileira, tão preocupada com o restante do mundo, enquanto
os filhos da nossa nação morrem de fome e principalmente sem ouvirem a palavra
de Deus.[9]
Vimos o esforço
missionário e concentrado de João Calvino. Esforço esse que tem reflexo
no mundo ainda hoje. Sentimos falta de uma “Genebra’ onde respira missões. Para
o reformador genebrino não existia lugar ou pessoa onde a graça de Cristo não
pudesse alcançar e restaurar e conduzir a boa ordem. “De fato, a glória de Deus
resplandece em todas as criaturas, tanto nas superiores como nas inferiores.
Contudo, em nenhum outro lugar essa glória resplandeceu mais intensamente do
que na cruz, na qual houve uma admirável mudança de coisas – a condenação de
todos os homens foi manifestada, o pecado foi apagado, a salvação, restaurada
ao homem; em resumo, todo o mundo foi renovado, e todas as coisas, restaurada à
boa ordem”.[10]
Nordeste & Missão.[11]
O Brasil, mas principalmente o Nordeste é um lugar deixado à própria sorte pela
igreja. O Sertão nordestino é a mais próxima e negligenciada fronteira da
igreja brasileira. Longe dos olhos, às margens das iniciativas e estigmatizadas
como “campo resistente”, centenas de comunidades rurais, onde vivem mais de 11
milhões de pessoas, clamam ano após ano por uma oportunidade relevante de ouvir
o Evangelho.
Historicamente
estas cidades do sertão nordestino têm sido classificadas como “resistentes” ao
avanço da igreja evangélica devido à idolatria. Dados do IBGE, contudo, revelam
um forte crescimento dos “sem religião” na última década, fazendo com que este
grupo já seja o segundo mais numeroso em várias destas pequenas cidades.
Juripiranga (9.600 hab.), no agreste Paraibano, com 22% de “sem religião”, é um
exemplo.
A Paraíba, com 84 municípios com menos de
3% de presença evangélica, é o Estado mais carente do Evangelho no Brasil!
Mas a Paraíba também é estratégica para o avanço do
Reino de Deus na região, pois é o centro geográfico do Nordeste. Partindo de
João Pessoa, num raio de 700 km, temos 5 outras capitais, vários pólos
regionais, como Campina Grande, Mossoró e Caruaru e centenas de pequenas
cidades do sertão.
O Nordeste (principalmente o sertão)
é o maior desafio missionário da igreja brasileira. Ao mesmo tempo, por causa
da alegria, fibra e criatividade de sua gente, é o maior potencial ainda não
mobilizado, da própria igreja, para missões. Veja alguns números.
É a 2ª região mais populosa do
Brasil (52 milhões hab.) e a que possui a menor porcentagem de evangélicos
(13%);
É onde está a maioria
(71%) das cidades menos evangelizadas do Brasil. Das 485 com menos de 3% de presença
evangélica, 343 estão no interior nordestino; nessas regiões o protestantismo
histórico é praticamente inexististe. Em alguns estados nordestinos o
presbiterianismo histórico (IPB) aparece no último relatório do IBGE com uma
presença inexpressível. A porcentagem é a menor entre todas as denominações
evangélicas existentes.
Das 258 tribos indígenas
brasileiras, 39 estão no Nordeste e, destas, 29 ainda não têm uma igreja capaz
de evangelizar seu próprio povo sem ajuda externa; Das 724 comunidades quilombolas
(descendentes de africanos), 523 estão no Nordeste e onde, em sua grande
maioria, ainda não existe uma única igreja.
Pesquisa etnográfica
realizada em 15 de julho de 2013 apresentam ainda os seguintes dados: Cidades
do Cariri da Paraíba. São João do Tigre – 5.000 hab. Sumé – 16.000 hab. Prata –
5.000,00 HAB. São Sebastião do Umbuzeiro
– 4.500,00 hab. Congo – 5.500 hab. Ouro Velho – 3.100 hab. Zabelê – 2.500 hab.
Serra Branca – 13.000 hab. Amparo – 3.000 hab. Camalaú – 7.000 hab. São João do
Cariri – 5.000 hab. Coxixola – 2.200 hab. Total de habitantes apenas nestas
cidades: 71.800 habitantes. Estas cidades tem número reduzidíssimo de
evangélicos, não tem Igreja Presbiteriana, os poucos ‘evangélicos’ não defendem
o evangelho da graça de Deus, estas cidades estão no Cariri paraibano. No
entanto, existem muitas outras cidades nos estados do Pernambuco, Ceará, Piauí
e Rio Grande do Norte em situações semelhante sem despertar qualquer interesse
missionário da igreja hodierna.
Muitos
outros fatores negativos de ordem – política – social e religiosa estão
intrinsecamente ligados ao nordeste brasileiro [Pode-se dizer com segurança que
a “África, a Macedônia” (At 16:9) que grita por socorro é logo ali]. Eis o
grande paradoxo entre a visão missionária da Igreja em Genebra e a Igreja
brasileira.
[1] LIMA, Danilo Eller / Danilo
Eller Lima. Diácono da Igreja Presbiteriana do Brasil do Jardim Esperança – Cabo Frio, RJ. Em cumprimentos a exercícios
de recomendações pastorais alusivos a teologia e a diakonia de João Calvino.
[2] Revista Fé para hoje. João
Calvino 500 anos. p.1,2. Nº 35 – Nov/2009. Ed. Fiel.
[3] Idem, Ibid, p. 32
[4] Idem, Ibid, p. 33
[5] Idem, Ibid, Op, Cit
[6] Idem
[7] Idem
[8] Idem
[9] LIMA, Danilo Eller / Danilo Eller
Lima. Diácono da Igreja Presbiteriana do Brasil do Jardim Esperança – Cabo Frio, RJ. Em cumprimentos a exercícios
de recomendações pastorais alusivos a teologia e a diakonia de João Calvino.
[10] Idem, Ibid, p.33
[11] Pesquisa etnográfica – observador
participante. www.projetomacedoniamisael.blogspot.com