Colaboração do irmão Rev. João Alves dos Santos.
Foi meu professor no Centro Presbiteriana de
Pós-Graduação Andrew Jumper – SP – No módulo: “Introdução a Teologia de João
Calvino” do Curso Mestrado em Divindade - Magister Divinitatis
(M.Div) com ênfase em Plantação de Igreja e Missões Urbanas.
“Amém” é uma palavra hebraica que significa
“verdadeiramente”. Ela é derivada de um verbo que significa “ser firme” ou “ser
verdadeiro”. É usada duas vezes em Isaías 65.16 para referir-se a Deus como “o
Deus da verdade”, como é traduzido em nossas versões, o que equivale a “o Deus
verdadeiro”. No hebraico, a expressão é o “Deus do Amém”. O mesmo uso é
encontrado no Novo Testamento, em 2Coríntios 1.20, quando Paulo diz: “Porque
quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por
ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio”.
A palavra foi transliterada para o grego, assim
como para as demais línguas em que a Bíblia foi traduzida, tornando-se, assim,
um termo universal. É por isso que a temos igualmente em português. Ela é usada
na Bíblia também como modo de expressar um desejo, confirmar uma afirmação,
aceitar a validade de uma maldição, fazer um juramento ou ainda para juntar-se
a alguém em um cântico de louvor ou doxologia. Em Jeremias 28.5-6, o profeta
responde ao outro profeta Hananias com um “Amém”, expressando seu desejo de que
a profecia proferida por este se cumprisse. Ele diz: “Amém! Assim faça o
SENHOR; confirme o SENHOR as tuas palavras, com que profetizaste, e torne ele a
trazer da Babilônia a este lugar os utensílios da Casa do SENHOR e todos os
exilados”. Em Números 5.20-22, a mulher que fosse acusada de adultério por
um marido ciumento deveria responder com um duplo “amém” ao juramento de
maldição que o sacerdote proferia, para concordar com esse juramento. Em
Deuteronômio 27.15-26, o povo deveria responder com um “Amém” às maldições que
eram invocadas pelos levitas para aquele que cometesse práticas contrárias à
lei e abomináveis ao Senhor. Há ali doze maldições a que o povo deveria
responder com o “Amém”. Em Neemias 5.1-13, Neemias repreende os nobres e
magistrados pela prática da usura contra os seus irmãos judeus e os faz
prometer que devolveriam aquilo que injustamente haviam tomado deles. Essa
promessa foi feita com juramento e uma sentença de maldição ao que não a
cumprisse, e todo o povo respondeu com um “Amém”. Foi também assim que Jeremias
respondeu a Deus quando este invocou uma maldição sobre aqueles que não
cumprissem a aliança estabelecida com seus pais, desde a saída do Egito. E
Jeremias disse: “Amém, ó Senhor” (Jr 11.5).
O “Amém” era também o modo como o povo respondia às
orações e louvores dirigidos a Deus ou às bênçãos invocadas sobre ele pelos
seus líderes, como vemos em Nemias 8.6 e 1Crônicas 16.36, ou como o próprio
adorador concluía a sua oração ou o seu louvor, como nos Salmos 41.13; 72.19 e
89.52.
O mesmo uso da palavra encontramos no Novo
Testamento. O Senhor Jesus é chamado de “Amém” e “testemunha fiel e
verdadeira”, em Apocalipse 3.14, em consonância com o uso de “Amém” como um
dos títulos de Deus no Antigo Testamento, como vimos em Isaías 65.16. A palavra
“verdade”, encontrada em João 1.14,17 e 14.6, em referência a Jesus, vem da
mesma raiz da palavra “amém”. Por esta razão ele podia usar, como usou
freqüentemente, a expressão “em verdade vos digo”, às vezes com um duplo “em
verdade”, antes de suas afirmações, pois ele é a verdade e o seu
testemunho é verdadeiro (João 3.3,5,11; 10.1, etc.). Em grego essa expressão é
“Amém, amém”.
Da mesma forma como no Antigo Testamento, a Igreja
Cristã, nos dias dos apóstolos, costumava responder às orações congregacionais
com um “amém”, como ainda fazemos hoje. É por isso que Paulo condena em
1Coríntios 14.14-16 os que oravam em outra língua e impediam aqueles que não a
entendiam (que ele chama de indoutos) de dizer o “amém” depois da oração.
É com o “Amém” que as orações, as doxologias e as
bênçãos que encontramos nas epístolas terminam. Também é com o “Amém” que
encontramos os anjos louvando a Deus em Apocalipse 7.11-12: “Todos os anjos
estavam de pé rodeando o trono, os anciãos e os quatro seres viventes, e ante o
trono se prostraram sobre o seu rosto, e adoraram a Deus, dizendo: Amém! O
louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder,
e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!” . Também é
assim que os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes louvam e adoram
a Deus, nesse mesmo livro, dizendo: “Amém! Aleluia!” (Ap 19.4). E é com
o “Amém” que o livro de Apocalipse se encerra, com a promessa de Jesus, “Certamente,
venho sem demora”, ao que João responde “Amém. Vem Senhor Jesus!” (Ap
22.20).
“Amém”, portanto, é uma das palavras mais
significativas da nossa fé cristã. Devemos usá-la como expressão de nossa
obediência a Deus e às suas ordens, como modo de revelar nossa submissão e
aceitação à sua disciplina, quando necessário, e como manifestação do nosso
desejo de ver a sua vontade sendo feita e o seu reino sendo conhecido em todo o
mundo. Não é uma palavra para ser usada de modo mecânico ou inconseqüente, como
muitas vezes acontece, sem que se tome consciência do que ela significa ou do
que se está dizendo. Não é apenas uma fórmula para alguém se manifestar durante
as orações ou para terminá-las ou para encerrarmos o culto. É mais do que isso.
É, muitas vezes, um juramento que fazemos a Deus de obedecer a sua palavra,
quando a ouvimos, ou a afirmação de que concordamos com aquilo que está sendo
dito, por Deus ou por alguém que nos fala em seu nome, ou por alguém que nos
conduz a ele em oração. Ao cantarmos o “amém tríplice”, no final do culto,
estamos dizendo que concordamos com tudo o que aconteceu ali, com o louvor do
qual participamos, com as orações que elevamos a Deus e com a mensagem que
recebemos da parte do Senhor, e ainda estamos afirmando estar dispostos a
cumprir o que nos foi ordenado e o que prometemos durante o culto. É, portanto,
coisa séria, pois ao dizer “Amém” nós estamos invocando o próprio nome de Deus.
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O Rev.
João Alves dos Santos é professor Assistente de Teologia Exegética (NT) e
Coordenador de Educação a Distância da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP.
Professor Residente do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper –
SP. É graduado em teologia pelo Seminário Presbiteriano Conservador (B.Th.,
1963); mestre em Divindade e em Teologia do AT pelo Faith Theological Seminary (M.Div.,
1973, e Th.M., 1974) e mestre em Teologia do NT pelo Seminário
Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (Th.M., 1985). É também graduado em Direito pela Faculdade de
Direito de Bauru, SP (1969) e em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras Prof. José A. Vieira, em Machado, MG (1981). Foi professor de Grego e
Exegese do NT no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição
(1980-2004) e professor de Teologia Sistemática no Seminário Presbiteriano
Conservador (1974 -2004). Foi também professor de Grego e Exegese do NT no Seminário Presbiteriano do Sul(1980 a 1986) e o primeiro coordenador do CPAJ
(1991). É ministro da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil e membro do
corpo editorial da revista Fides Reformata
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